A VERDADE SOBRE O DÍZIMO NAS
IGREJAS CRISTÃS
É cada vez mais impressionante a necessidade de
refletirmos sobre a realidade do dízimo
em algumas Igrejas Reformadas ou
Tradicionais, nos dias atuais. Vamos nos referir nessas breves linhas de
reflexão a este assunto tão importante que, em termos práticos, é desenvolvido
desde o Antigo Testamento (AT), anterior à Lei Mosaica (Moisés), e praticado e
adotado pela maior parte do Cristianismo como uma prática Bíblica que expressa
confiança (fidelidade) e obediência a Deus.
É fato também que, no mundo contemporâneo, e quem sabe há mais tempo
ainda, a prática do dízimo tomou um sentido conotativo, fora da realidade em
si. Absurdamente, alguns Pastores chegam ao cúmulo de chamar os próprios fiéis
da Igreja de ladrões, sem nenhum constrangimento, inclusive na presença de
visitantes.
Tais Pastores têm predileção pelo texto bíblico do último dos Profetas
Menores, Malaquias, que no capítulo três, versículos oito ao dez (Ml 3.8-10) assim diz: “Roubará o homem a Deus?
Todavia vós me roubais e dizeis: em que te roubamos? Nos dízimos e nas
ofertas”.
Dizem ainda, de posse deste texto, que aqueles que não “pagam” o dízimo,
que não dão o dízimo, que não estão em dia com o dízimo, estão em “estado de
maldição”; e mais ainda, que quem não “dá” o dízimo não está salvo,
complementando com o texto da primeira carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios
capítulo seis, versículo dez (1Cor 6.10) que diz que “Os ladrões não herdarão o
reino de Deus”.
Municiam-se, assim, de uma forma lógica de interpretar as Escrituras, o
que não é de se espantar, pois muitos procuram instruir-se de alguns
conhecimentos de Filosofia, Psicologia e
até de Contabilidade para melhor “conduzir” o rebanho. A lógica é a seguinte:
não dá o dízimo – é ladrão; sendo ladrão, não herda o reino de Deus (segundo o
último texto citado).
Certa vez, assistindo um culto, testemunhei pessoalmente um fato
relacionado ao assunto. Um Pastor disse em certo momento de sua pregação, que
um dia foi chamado em uma residência para orar por um Senhor que estava Enfermo
no leito; como aquele Senhor não tinha condições de caminhar, mandou um
familiar pedir que fosse chamar o Pastor para ir orar por ele.
O Pastor, por sua vez, disse que se negou a ir, que não iria e não foi
orar por aquela pessoa, pois ela não era dizimista e, portanto, estava debaixo
de maldição, sendo assim não adiantaria de nada orar por alguém que está em
débito com Deus. Disse também que a obrigação dele, Pastor, era com os
dizimistas fiéis, que eram quem realmente mantinham o salário dele, e que eram
fiéis a Deus.
Chegou ao disparate de ameaçar que quem não era dizimista, não o
procurasse para orar.
Cabe aqui uma análise mais reflexiva, nem tão profunda, mas simples das
Escrituras, pois Jesus veio para os simples e de forma simples (muitas vezes
não tinha nem onde dormir), pregava a salvação pela fé e pela graça, na
contramão daqueles que hoje, com artifícios, pretextos e falsos ensinos e
doutrinas, tentam solapar ou ludibriar a fé, através de interesses escusos, que
beneficiam a si mesmo.
No Evangelho do Apóstolo Paulo aos habitantes da Galácia (Gálatas)
capítulo três versículo treze (Gl 3.13) está escrito: “Cristo nos resgatou da
maldição da Lei, fazendo-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo
aquele que for pendurado no madeiro”.
A Lei, ao invés de justificar, maldiz, pois fazia/faz exigências que as
pessoas não podem cumprir, tinha a intenção de revelar o pecado, e não de
assegurar a justiça (Rm 4.15; 5.20). Foi uma medida temporária, introduzida
para convencer as pessoas de sua necessidade de justificação e de sua incapacidade de salvar a si mesmas, levando-as,
assim, a Cristo. Ainda, a Lei é inferior
à promessa, tendo vindo pelos anjos e por Moisés (Dt 33.2; Sl 68.17; At 7.53;
Hb 2.2) em contraste à promessa, que veio direto de Deus para Abraão.
É certo também que a Lei não é contrária à Promessa, elas são
complementares. A Lei exigia justiça, mas era impotente para fornecê-la.
Sua função era preparar para o Evangelho, tornando as pessoas conscientes
de seus pecados e da necessidade de um Salvador e nos dirigia a Cristo.
Ainda no mesmo Evangelho de Paulo aos Gálatas (Gl 3.25 – 4.7) sob a Lei
estamos em estado de imaturidade e cativeiro, mas sob o Evangelho, somos filhos
(v. 26) e herdeiros (v. 29).
Veja bem, através de sua morte na Cruz Cristo fez por nós o que não
poderíamos fazer. Sua obra, e não a nossa, removeu de nós a maldição por causa
da desobediência da Lei.
Através da fé, nós recebemos os benefícios fornecidos por sua morte,
incluindo a justificação (Gl 3.11 “E é
evidente que, pela Lei, ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo
viverá da fé”). Através da fé, nós recebemos os benefícios fornecidos por sua
morte, incluindo a justificação e a promessa do Espírito.
Vemos também em Efésios 1. 3 “Bendito o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus
Cristo, o qual nos abençoou com todas as bençãos espirituais nos lugares
celestiais em Cristo”.
Após esta “passagem” pelas Escrituras, fico a pensar: como pode alguém
distorcer a compreensão (ou interpretação) das Escrituras, no que se refere ao
Dízimo, qual a intenção ou propósito, se a Cruz de Cristo nos tem abençoado com
toda sorte de bênçãos espirituais e
livrou-nos da maldição da condenação da morte eterna por nossos pecados,
fazendo-se maldição por nós?
Será que são Judaizantes (que ainda guardam apenas o AT), Legalistas da
Lei, que procuram desviar os olhos de suas vítimas da Cruz de Nosso Senhor
Jesus Cristo para a Lei, ou ainda são aqueles que buscam instrumentalizar o
Dízimo e a Lei como Moeda de troca ou
intimidação, com ameaças aos fiéis para que abram seus bolsos generosamente
para garantir, em primeiro lugar, salários e sustento próprio, além de fazer
“Caixa” com poder de compra para adquirir bens, áreas de terra, construir mais
Templos (alguns luxuosos, enormes, pomposos) e até adquirir mansões, jatos
particulares e grandes Fazendas de gado, tudo em nome da fé e da
“Prosperidade”.
Ao analisarmos o Novo Testamento
(NT) vemos duas referências relacionadas ao Dízimo, no novo pacto. Uma
encontrada em Hebreus capítulo sete (Hb
7) onde diz que Abraão deu o dízimo de tudo à Melquisedeque e outra em Mateus
capítulo vinte e três versículo vinte e três (Mt 23.23) onde vemos a referência
aos Fariseus, que davam o Dízimo do
endro, da hortelã e do cominho, segundo a Lei, e se esqueciam do mais
importante que é o amor.
Jesus se referia
aquelas pessoas escrupulosamente atentas às coisas externas mais triviais, como
cobrar dízimo por pequenas sementes e plantas, mas se esqueciam dos princípios
fundamentais de moralidade. Em Mt 23.24 Jesus usa uma hipérbole (coais um
mosquito e engolis um camelo) para ilustrar a cegueira espiritual, que permitia
enxergar assuntos triviais ao mesmo tempo que deixava passar itens maiores.
No mesmo capítulo, vemos Jesus afirmar a integridade moral que seus
discípulos praticam ao dar o dízimo, não como Lei, mas como uma disciplina
aceita.
Ora, Jesus nasceu sob a Lei, na plenitude dos tempos (Gálatas quatro
versículo quatro – Gl 4.4), viveu, portanto, debaixo da Lei, que não era
contrária à promessa, mas complementar; como dissemos anteriormente, a Lei
tinha a função de tornar as pessoas conscientes de seu pecado e da necessidade
de um Salvador, o qual viria para estabelecer um novo pacto, um novo
Testamento.
Mas um Testamento, ou vontade, não
tem autoridade legal até a morte da pessoa que o fez, por isso a morte de
Cristo foi necessária para o estabelecimento do Novo Testamento. Com a morte do
Testador (Jesus Cristo) ocorre o fim do antigo pacto (Hb 9.16,17 “Porque onde
há testamento, é necessário que intervenha a morte do Testador, porque um
Testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o
Testador vive?”).
Com a morte de Cristo inicia-se um novo pacto, uma superior aliança (Hb
8.6 “Agora, com efeito, obteve Jesus Ministério mais excelente, quanto é ele
também, Mediador de superior aliança”). A morte de Cristo nos deu condições de
receber de graça o perdão pelas nossas iniqüidades, das quais fomos sarados e
livres da condenação da morte eterna.
A graça recebida na cruz de Cristo foi revelada aos Gentios, quando Deus
ensinou a Paulo, Apóstolo, um novo
Evangelho, que ele não consultou nem carne, nem sangue, recebendo então, Paulo,
o Evangelho da Graça e, por ele hoje vivemos, na nova aliança. Enquanto a
antiga aliança podia trazer apenas uma lembrança dos pecados, pela Lei, a nova aliança, pela Graça, traz o verdadeiro perdão.
Até aqui procuramos trazer, para uma melhor compreensão do assunto, a
verdade com base nas Escrituras, e fica o questionamento:
E aí, quem é o verdadeiro
ladrão?
Em João capítulo dez (Jo 10) o próprio Jesus diz que aquele que não entra
pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra porta, é ladrão e
salteador. A porta referida é ele próprio, Jesus Cristo. Com Ele e com sua obra
está a Salvação.
Aqueles que vieram antes de Jesus e desviaram seu olhar da obra de Jesus
e de sua Cruz redentora, movidos por interesses próprios, ambiciosos e
egoístas, são os mesmos que ainda hoje agem de forma fraudulenta, aviltando o
sangue purificador derramado na Cruz do Calvário. Estes, são os Mercenários,
larápios e mercantilistas da fé, que agem de forma preocupada consigo mesmo,
com sua autoconservação, e que não são Pastores de ovelhas, mas lobos vorazes.
O bom Pastor conhece as suas ovelhas e delas é conhecido. O bom Pastor
quando vê uma ovelha ferida, vai em busca dela
e cuida dela e sara as suas feridas e a traz para o seu aprisco. Mas o
Mercenário, que não é Pastor (falso Pastor) quando vê vir o lobo deixa as
ovelhas e foge e o lobo as arrebata e dispersa.
Infelizmente, muitos são os Mercenários da fé, que nesta última hora têm
enganado a muitos, pois têm medo de ficar sem o seu sustento – em Rm 16.18 está
escrito: “Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu
ventre; e com suas palavras e lisonjas enganam os corações dos simples”.
Para os Larápios da fé, se a pessoa não “dá” ou “não paga” o dizimo, não
está salva. Ora, é um julgamento precipitado e equivocado da realidade do
dízimo, poderíamos deduzir então que, para estes, que assim julgam e procedem,
quem salva, então, não é a morte de
Cristo na Cruz, quem salva é o dízimo.
A Escritura Sagrada nos assegura que quem salva e purifica, é Jesus
Cristo, que já comprou os nossos pecados por um alto preço (preço de sangue) e
o dízimo não tem poder para isso; dízimo não compra pecados, dízimo não
compra a Salvação da alma.
Mas então, como se deve ofertar?
No Novo Testamento, o Apóstolo Paulo ensina a maneira de arrecadação
(2Cor 9.7) “Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza
ou por necessidade, porque Deus ama ao que dá com alegria”. Deus tem interesse
no coração humano, ofertar é um ato de amor em relação ao próximo e a Deus.
Toda ajuda que as Igrejas recebem, na forma de Dízimos e ofertas, são
para que haja mantimentos na Casa do Senhor e devem ser destinadas a saldar
encargos que elas têm como contas de água, luz, telefone, manutenção predial,
etc..., mas principalmente destinar ajuda aos pobres, aos órfãos, viúvas, necessitados, de forma a partilhar e
expressar o verdadeiro amor a Deus e ao
próximo.
Em 2Cor 8.12 está escrito: “Porque, se há prontidão de vontade, será
aceita segundo o que qualquer tem e não segundo o que não tem”. Ou seja, eu dou
aquilo que está nas minhas posses, aquilo que eu posso, e o importante é o
desejo (do coração) de dar e não a quantia dada.
Há Pastores que chegam ao cúmulo de estabelecer quantias a serem dadas
para colher ofertas, defraudando, espoliando a forma correta e espontânea de
doação das mesmas. A oferta deve vir do coração, do desejo de dar, da
espontaneidade, e não da coação ou indução à quantidade estimada por algum
homem.
Há casos de pessoas recém chegadas em Igrejas, ou de pessoas que estão
prestes a se batizarem, passarem por uma sabatina, onde as mesmas são
questionadas se estão dispostas a
pagarem 10% de seus rendimentos mensais, a fim de serem admitidas como membros
daquela Igreja.
Em outros casos há ameaças
(inclusive de maldição), e procurando levar medo e temor aos fiéis para que
lhes obedeçam, são usados diversos
artifícios e jargões do tipo “não roube a Deus”, dê uma oferta “generosa”, de
“expressão” a Deus, “abra a sua mão”, ou
“deixe as suas moedas de lado, Deus não quer migalhas”, como se Deus
estipulasse quantidade e valor para algo que deve vir de uma atitude livre,
voluntária e espontânea.
Sempre é bom lembrarmos que a graça do Senhor nos deu liberdade, com
amor, em Cristo Jesus; e não estamos
debaixo das obras da lei, mas das obras da fé, pois pela graça fomos e somos
salvos, por meio da fé, e isso é dom de Deus.
Em Gl 3.10 está escrito: “Todos aqueles, pois, que são das obras da lei,
estão debaixo da maldição...”, então se há alguma maldição é naqueles que ainda
insistem usar as obras da lei como forma
de rebusque.
Ao final desta breve reflexão sobre
Dízimos e ofertas, queremos deixar claro que procuramos esclarecer esta
prática, que deve ocorrer de forma livre e deliberada, reconhecendo que Deus é
o Senhor de tudo, que criou os céus e a terra, e que tudo provém daquilo que
ele criou e nos concedeu, nós, portanto, como Mordomos, apenas administramos e
retribuímos uma porção, pela Graça e pela Fé.
De graça recebemos, de graça damos.
Na paz de Cristo!
Autor: Adilson Luis Machado
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