quinta-feira, 20 de setembro de 2012

TUDO PASSA






         Certo dia, ao requisitar os serviços de um Funileiro, tive a oportunidade de refletir sobre uma frase, dita por ele. Após pedir-lhe que fosse à minha casa fazer um conserto na calha da cobertura (telhado), conversamos  um pouco.
         Ele me disse que não poderia fazer o serviço, pois estava passando por dificuldades de saúde, e aquele fora um dia difícil para ele, havia ido ao Médico, pois estava com problemas de pressão arterial e era diabético.
         Porém, apesar de estar com a aparência abatida e o semblante um pouco caído, notei ainda uma certa tristeza em seu olhar; no intuito de motivá-lo e saber o porquê daquela tristeza, perguntei-lhe se estava preocupado com alguma coisa, se tinha alguma preocupação. Ele baixou os olhos, fez um gesto desolado com a boca e, a seguir, disse-me: vem cá, vou te mostrar uma coisa. Ele tomou a frente e eu o segui. O primeiro cômodo da casa que nós entramos foi na cozinha. Sua esposa estava à mesa, sentada, tomando café. Com um breve sorriso me acenou, dizendo “boa tarde”, continuei seguindo aquele homem e então entramos num quarto que na verdade era um prolongamento da cozinha, tipo quarto e cozinha conjugados.  Deparei-me então, com uma cena muito triste, comovente a qualquer alma vivente.
         Pude então entender por que aquele homem estava triste e abatido.
         Em cima de uma cama de ferro, dessas do tipo hospitalar, repousava imóvel um rapaz jovem, corpulento, com o corpo seminu, com fraldas, olhar perdido e fixo no teto, com uma sonda no nariz, uma bolsa externa cheia de fezes, na região do intestino; só então percebi a dor daquele homem.
         Ele então, disse-me, apontando para o rapaz, imóvel em cima daquela cama: este é o meu filho, tem 22 anos. Fiquei sem palavras, apenas apertei meus lábios e acenei para cima e para baixo com a cabeça. Não permanecemos ali por muito tempo e então saímos dali. Aquele senhor me acompanhou até o portão da frente da casa. Pareceu-me que ele queria manifestar algo, uma reflexão sobre a vida. Então ele começou a falar sobre o passado, os tempos de outrora, falando que antigamente as pessoas conversavam mais, riam mais, preocupavam-se menos, parecia que as pessoas eram mais simples, que a vida era mais desatarefada e nos tempos de hoje, dizia ele, não é mais assim. Então, balançando a cabeça para a esquerda e para a direita, um pouco confuso,  ele disse: - tudo passa!
         Acabamos ali a nossa conversa e fui embora. Porém, aquela manifestação final dele “tudo passa!” continuou na minha mente. Aí, comecei eu também a lembrar fatos do passado.
         Do alto dos meus 48 anos, olhei para trás e apesar de considerar-me um indivíduo jovem, me senti envelhecido. Lembrei de tantas coisas do passado, de muitos anos atrás que, naquele momento, me traziam saudades. De fato, aquela manifestação mexeu comigo, com minhas reminiscências.
         Comecei a lembrar dos tempos de escola, quando eu cursava o “primário” (ensino fundamental). Na minha cabeça passou um filme que ia da primeira à quinta série. De repente, me vi nadando no rio Vacacaí. Lembrei que, no final daquele ano, eu cursava a última série do ensino primário. Todos os meus colegas (meninos), no último dia de aula, saíram correndo da Escola e se dirigiram ao rio Vacacaí (que fica próximo à Escola Margarida Lopes).
         Lá chegando, o rio transbordava, pois havia chovido muito ultimamente, a molecada à medida que ia chegando próximo ao rio, ia se pelando, tirando toda a roupa e se jogavam dentro do rio, uns de bico, outros de pé, uns de prancha (de barriga), numa gritaria intensa, todos alegres e também nus, pois não podiam chegar em casa com a roupa molhada, para não levar bronca dos pais.
         Também naquele tempo, quase todas as tardinhas, jogávamos peladas de futebol em um pequeno campo perto de minha casa. Muitas vezes minha mãe dava falta de mim em casa e vinha direto ao campo me buscar com uma vara de alecrim nas mãos. Ela não gostava que eu jogasse futebol com a molecada. Pior era quando eu me lesionava  jogando futebol; ao chegar em casa lesionado, ao invés de receber socorro, minha mãe  me surrava com uma vara, pois segundo ela “era prá mim aprender a não jogar mais bola com aquela molecada”. Ela dizia que aquele “jogo de bola” servia só prá eu me machucar.
         Na verdade, eu nem me importava com isso, para mim tudo era emoção, tudo era diversão, tanto o futebol quanto o fato de apanhar. Já estava acostumado com os dois.
         Hoje é diferente, cresci, sou adulto. Hoje me preocupo e vejo as pessoas preocupadas, falando em aquecimento global, crise econômica, doenças, guerras, violência, e tantas outras coisas da modernidade. Ao mesmo tempo em que tenho uma preocupação natural, própria do ser humano, também tenho convicções, pois hoje eu tenho a minha vida pautada no Evangelho, nas sagradas Escrituras. Não procuro impor às pessoas as minhas idéias, valores, minhas crenças, mas procuro expô-las, procurando mostrar a verdade e o caminho verdadeiro que escolhi e que, sendo bom para mim, procuro compartilhá-lo com os outros. Vivemos num tempo em que devemos fazer escolhas enquanto há tempo. Acredito fielmente que estamos vivendo no tempo do fim. E não acredito nisso baseado no arsenal nuclear armazenado e pronto para disparar a  qualquer momento pelos países que detém armas nucleares com fins belicosos. Acredito sim, no final dos tempos. Por quê tem se intensificado cada vez mais as tempestades, por quê temos visto cada vez mais a natureza em fúria, por qual motivo o homem vem agredindo e destruindo cada vez mais ecossistemas inteiros. E a revolução industrial, que trouxe crescimento e progresso ao mundo, mas fez o homem regredir humanamente. Por quê, em meio à todo esse progresso, tantas pessoas morrem de Câncer, Enfizema, doenças novas que surgem cada vez mais e mais agressivas? Por quê fazemos parte da geração do veneno, somos obrigados a comer alimentos tratados à base de veneno, com alimentos tratados com pesticidas e fungicidas usados de maneira indiscriminada, muitas vezes sem fiscalização?
Também é preocupante ver pessoas com medo de tomar sol, porque existe um buraco na camada de ozônio, que cada vez aumenta mais. E a multidão de jovens que anualmente se formam em uma Faculdade; após anos de lutas, ao se formarem, não têm na maioria das vezes, nenhuma garantia de emprego. A única garantia que eles têm é que terão que lutar mais ainda, se quiserem absorver uma vaga no concorrido e cada vez mais apertado mercado de trabalho.
Outro dia, estava lendo sobre milhares e milhares de pessoas entre elas crianças, que morrem de fome diariamente no mundo e os seus apelos não são ouvidos. Nem pelos políticos que ganham polpudos salários e muita mordomia, nem por muitos Chefes de Nações, os quais estão constantemente envolvidos com viagens em confortáveis aviões. Inclui-se na lista dos que não ouvem o grito de desespero dos sufocados pela fome, as grandes Empresas que têm lucros cada vez maiores. Quem ouvirá os gritos?
Quando eu era criança, gostava de pescar nos fins de semana. Hoje vejo incontáveis peixes morrendo contaminados pela poluição dos rios, causada pelo homem. É duro ter conhecimento que até os peixes têm morrido de Câncer.
Todos os dias, animais e plantas estão entrando em vias de extinção, devido à ação gananciosa e destruidora do homem. Incontáveis animais estão morrendo em todo o planeta, porque não têm como se defender ou para onde ir. Florestas inteiras são queimadas ou cortadas, por amor ao dinheiro, tudo em nome da riqueza. O homem tem feito esforços ineficazes no sentido de reverter esse quadro.
A verdade é que o homem tem se mostrado incapaz de repor a camada de ozônio, incapaz de recuperar as florestas, não sabe como salvará os peixes das águas que polui em escala crescente, tampouco  pode ressuscitar animais extintos. Na era da Informática, da tecnologia de ponta, da internet e tantos outros avanços tecnológicos, poderá o homem encontrar soluções para tanta miséria e tanta destruição?
Creio que é necessário que haja compreensão que não somos os senhores de tudo, não temos poder sobre todas as coisas e que o início da solução dos problemas deste mundo começa dentro de nós mesmos. Se cada um fizer a sua parte, teremos um mundo melhor. O ser humano tem que passar por uma transformação interior. Deixar a ganância de lado e preocupar-se mais com o seu semelhante, já é um começo. Queremos um mundo melhor, para todos os povos,  sem guerras, sem violência, sem poluição, sem agressão ao meio ambiente. Creia que isso é possível, a solução está dentro de nós, que cada um  faça a sua parte!


Autor: Adilson Luis Machado
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário, é importante para nós! Obrigado!