O show do eu
Que sejamos cristãos, de fato, aptos a olhar para os outros e não apenas para os nossos próprios umbigos
Este final de semana, fui a um show do cantor cristão João Alexandre, e ouvindo seus clássicos antigos, e outras de grupos como Vencedores por Cristo e Grupo Logos que ele tocou, refletia como a temática da música cristã mudou radicalmente nos últimos tempos.
Passamos a importar as fórmulas de sucesso da chamada CCM (Contemporary Christian Music), que é produzida nos EUA, Austrália e outros lugares. Pensando nas mensagens das músicas gospel atuais é impressionante como elas, até falam de Jesus, de Deus, mas quase sempre a partir de uma perspectiva marcadamente centrada no meu próprio “EU”.
É a MINHA emoção, o MEU milagre, o MEU querer, a MINHA benção, a MINHA casa, o MEU toque, o MEU abraço, etc. E fiquei refletindo se isso não é mais um reflexo do individualismo da nossa sociedade de consumo que tem invadido nossas igrejas, onde o “nós” (aqui entendido não só como um mero ajuntamento de pessoas, mas, um “nós” que se faz irmãos), foi substituído pelo “eu”.
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Neste sentido, a minha reflexão se originou de uma inquietação interior minha, e que creio que de muitas irmãos, de estarmos hoje, nesta sociedade de consumo, vivendo apenas para nós mesmos, vemos o sofrimento alheio e até falamos “oh, coitado”, mas aquilo não nos atinge mais, sendo que o Evangelho é uma proposta de vida bem diferente, de entrega, de se importar com o outro.
Interessante foi recordar e lembrar que nos momentos da minha vida que eu mais pensei no outro, me doei, foram os momentos que eu me senti mais cheio da presença de Deus, com paz interior, sendo o contrário também verdade. E creio que isso tem a ver com a questão do coração altivo. Quem se doa, quem pensa no outro, sente empatia, dá pouco espaço para que mágoas, ressentimentos e dores tomem lugar e façam morada.
Já, se pensamos coletivamente, no âmbito das igrejas, creio que poderíamos estar fazendo uma diferença brutal em nosso país, no sentido de trazer mais justiça social, até porque temos um privilégio que nos permite investir muito em trabalhos sociais, que é a imunidade tributária.
Para ter uma ideia do que estou falando, só em 2011, foram arrecadados 20 bilhões de reais em nossas igrejas, e a assistência social tem sido ínfima. Parece que estamos mais preocupados em nossas bênçãos, nossos milagres, do que com o outro.
Aí, alguns podem se perguntar: Mas, isso que você está falando não é papo de “esquerdista”, de gente da missão integral, de pastores “vermelhos”? E eu responderia, NÃO. E falo isso, quando leio passagens como a do Bom Samaritano (Lc 10:30-37) e tantas outras passagens bíblicas que nos falam do cuidado que devemos ter com os pobres, viúvas, órfãos, etc.
O Reino de Deus e sua justiça, diferentemente do que alguns pensam, não se traduzirá apenas como uma realidade vindoura, mas, algo que começa no aqui e agora, como fizeram os cristãos primitivos enfrentando todas as agruras em união contra um inimigo bem maior e perigoso à época: o Império Romano.
Concluo, pedindo a Deus que essa chama não se apague. Que sejamos cristãos, de fato, aptos a olhar para os outros e não apenas para os nossos próprios umbigos, até porque sinceramente a sociedade já está de saco cheio de ouvir pessoas que falam de Jesus, mas, não espelham nada dos ensinamento dEle. Que assim seja !
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