Quem domina a sua mente
Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 6 do trimestre sobre “Batalha espiritual”
Dando prosseguimento aos estudos deste trimestre sobre Batalha espiritual, chegamos com a graça de Deus à sexta Lição, em que abordaremos o tema “Quem domina a sua mente”. Este é um assunto crucial, visto que um primeiro lugar onde precisamos montar guarda em meio às batalhas espirituais enfrentadas cotidianamente é a nossa mente. Dizia Hanke Hanegraaff que toda a Escritura nos informa que a batalha espiritual é a batalha pela mente. De fato, é pela mente que começa o domínio da luz ou das trevas sobre nós! John Stott dizia que o segredo de viver santo está na mente. É o que veremos ao longo desse estudo, especialmente no último tópico.
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I. Sobre a epístola aos Filipenses
1. Autoria, local e data
Como identificado no início da carta, esta é de autoria do apóstolo Paulo. Escrita por volta do ano 60 a 63 d.C., quando Paulo estava sob prisão, possivelmente em Roma. Deve-se lembrar que a igreja de Filipos foi fundada pelo apóstolo Paulo, por ocasião de sua segunda viagem missionária, num trabalho que se iniciou na casa de Lídia, mulher de boa condição social, visto que era vendedora de púrpura (At 16.11-15). Nessa mesma cidade Paulo havia expulsado o espírito de adivinhação de uma jovem escrava (At 16.16-18), e ainda evangelizado e batizado toda a família do carcereiro, que ficou responsável pela guarda de Paulo e Silas na prisão (At 16.25-34).
2. Doutrinas tratadas na carta aos Filipenses
A breve carta de Paulo aos filipenses tem como uma das passagens doutrinárias mais importantes e conhecidas no Novo Testamento o texto que vai dos versículos 5 ao 11 do segundo capítulo. Como pontua Charles Ryre, nessa passagem “Paulo apresenta a doutrina da kenosis – [termo grego para] a auto-humilhação ou auto-esvaziamento de Cristo”. Inclusive, alguns comentaristas bíblicos entendem que esse texto se trata na verdade de uma poesia cristã primitiva, ou seja, um hino que era cantado pelos primeiros cristãos e que Paulo aproveitou para enxerta-lo em sua carta e usá-lo didaticamente para ilustrar o sentimento que deve predominar na mente dos cristãos: a humilde disposição para servir o outro! Se de fato for um hino, que hino cristocêntrico temos!
Outros temas importantes na carta aos Filipenses são: a oração confiante (4.6,7), a gratidão (4.10-19), recomendação de obreiros valorosos (2.19-30), e até mesmo uma autobiografia paulina (3.4-14). Entretanto, historicamente esta carta é conhecida como “a carta da alegria”, devido o tom entusiasmado do apóstolo Paulo em todos os capítulos, quer falando de sua própria alegria ou regozijo (1.18; 2.17; 4.10), quer chamando os irmãos filipenses para se alegrarem com ele no Senhor (2.18, 28; 3.1; 4.4).
Aquele que contou a alegria como fruto do Espírito (Gl 5.22) e que exortou os irmãos de Tessalônica a se alegrarem continuamente (1Ts 5.16), transborda de alegria ao escrever para os crentes de Filipos, e espera poder contagiá-los! Apenas perceba o detalhe: temos um homem preso chamando seus irmãos livres a se alegrarem. Não lhe parece um paradoxo? É que embora estivesse preso no corpo, Paulo estava livre em sua mente! As circunstâncias não podiam escravizar seus sentimentos, obscurecer seu entendimento ou ofuscar seus pensamentos.
3. Um preso de mente liberta
Paulo era um homem livre apesar das algemas (1.7,14). Podia pensar com clareza e de tal modo manteve-se ativo a despeito das cadeias e dos adversários que lhe faziam oposição (1.15-17; 3.1-3), que ele fez, em meios às prisões, progredir a mensagem do evangelho, tornando Cristo conhecido até mesmo da guarda pretoriana (1.13), dentre os quais alguns, já convertidos, enviaram saudações para os filipenses por meio desta carta. É desses filhos na fé gerados em meio às prisões que Paulo faz referência quando diz “Todos os santos vos saúdam, especialmente os da casa de César” (4.22). César aqui não é nome de uma pessoa, mas uma referência ao título do imperador romano. Ou seja, membros do governo (magistrados, oficiais e soldados romanos) estavam se convertendo através do trabalho missionário do apóstolo Paulo, o preso-livre!
Na batalha pela mente de Paulo ele foi vitorioso com a graça de Deus (2Co 12.9), de tal modo que podia dizer firmemente: “Varões, irmãos, tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência até ao dia de hoje” (At 23.1). Será que podemos nós fazer coro com o apóstolo do Senhor? Temos nós também andado com uma boa consciência diante de Deus diariamente? Mesmo quando não pronunciamos palavras, temos oferecido a Deus pensamentos puros como uma oferta agradável? Mesmo quando sozinhos, sem companhia de amigos ou familiares, temos guardado em pureza a nossa mente? Alguém já disse que Deus é o público de nossos pensamentos. E como era o lema do teólogo Jacó Armínio, seja este também o nosso lema: bona conscientia paradisus (expressão em latim que quer dizer: “Uma boa consciência é um paraíso”).
II. Sobre a “mente” no contexto bíblico
Existem várias palavras no texto grego do Novo Testamento para “mente”, “pensamento” ou “entendimento”. Vejamos três das palavras mais recorrentes e os seus significados mais comuns no contexto bíblico, segundo o Dicionário Vine [1].
1. Nous
A primeira palavra grega é nous – que denota em geral a nossa faculdade psicológica, ou seja, o intelecto: o lugar da consciência refletiva, compreendendo as faculdades da percepção e entendimento (Lc 24.45; Rm 1.28; Fp 4.7 onde foi traduzida por “entendimento” na maioria das versões em português), do sentimento, julgamento e determinação (Rm 12.2; 1Co 11.10).
É pensando na mente como faculdade psicológica que reflete, compreende, julga e determina as ações, que o Senhor nos exige amá-lo “de todo entendimento” (Mc 12.30). Nossa cognição, nosso desenvolvimento intelectual, nossas habilidades em geral, coordenadas pela nossa mente, devem ser consagrados ao Senhor, para amá-lo e servi-lo integralmente. Muitos foram dotados por Deus de grande inteligência, mas venderam suas mentes ao mundo ímpio e a satanás para fazerem coisas que são belas e admiráveis aos homens, mas repugnantes aos olhos do Senhor! Cristo deseja redimir, isto é, comprar de volta para si, não só a alma e o coração, mas também o nosso o intelecto.
2. Dianoia
Com significado muito semelhante ao de nous, a palavra dianoia (dia + nous) no grego significa literalmente, segundo Vine, “pensamento sobre, cogitação, ponderação, meditação, reflexão”. São os pensamentos tanto bons quanto maus trabalhando na mente do homem. Com significado mau, refere-se à consciência caracterizada por um impulso moral pervertido (Ef 2.3; 4.18); com um significado bom, refere-se à faculdade renovada pelo Espírito Santo (Mt 22.37; Mc 12.30; Lc 10.27).
O Senhor Deus, soberano e onisciente, conhece todas as cogitações de nosso coração e sabe com absoluta clareza cada um de nossos pensamentos (Sl 139.1-4). Nada há que se lhe possa ocultar! Já satanás, contrário ao que muitos pensam, não pode ler a nossa mente e conhecer todos os segredos de nosso coração, pois ele não é onisciente nem onividente – atributos exclusivos da Trindade. Entretanto, o adversário pode influenciar nossos pensamentos e saber o que se passa em nossa mente, mediante brechas que lhe abrimos quando não vigiamos a imaginação. Não é a toa que Paulo nos exorta a vestir o capacete da salvação (Ef 6.17), para protegermos nossa mente dos ataques do inimigo. Como bem pontuou Hanegraaff [2],
É crucial observar que se abrirmos a porta para Satanás ao falharmos em nos revestir da completa armadura de Deus, o Inimigo age como se estivesse sentado em nosso ombro sussurrando em nosso ouvido. Esse sussurro não pode ser percebido com o ouvido físico; porém, pode penetrar no “ouvido” da mente. (…) Ele sabe muito bem que, sem nossa armadura espiritual, somos presas fáceis no jogo do inimigo.
3. Noema
A terceira palavra, noema, refere-se ao “pensamento, projeto, desígnio”. Sabemos que o homem peca de quatro formas: (1) por pensamento, (2) por palavra, (3) por ação e (4) por omissão do bem que se deve fazer. Jesus ensinou que o homem comete adultério em seu coração quando “olhar para uma mulher com intenção impura” (Mt 5.28, ARA). O ato não consumado, mas desejado na mente é também pecado!
Paulo utiliza a palavra noema quando diz em Filipenses 4.7 que a paz de Deus que excede todo o entendimento (nous), guardará o coração e os pensamentos (no plural, noemata). Desde que o crente busque pensar (v. 8) e praticar (v.9) as coisas virtuosas, Deus mesmo se encarrega de guardar-lhe os bons propósitos e desígnios do coração! A batalha contra a velha natureza, o mundo e o diabo não está fatalmente perdida, pois há uma promessa divina de preservação ao que quiser manter-se a salvo!
III. Sobre a mente de Cristo
1. Há uma batalha pela nossa mente
É indubitável que estamos no meio de uma batalha pelo domínio da nossa mente: nosso próprio eu, o mundo (incitado por satanás) e o Criador buscam o controle de nossa forma de pensar e de agir. Quem determinará o controle de nossa mente será o nosso coração, que é, como dizia Myer Pearlman, “a ‘casa de máquinas’, por assim dizer, da personalidade, de onde procedem os impulsos que determinam o caráter e a conduta do homem” [3].
É tão latente esta batalha pelo controle de nossos pensamentos, que o apóstolo Paulo apropriadamente usou um termo militar para falar da proteção que um salvo em Cristo que se exercita na piedade desfruta da parte de Deus. Quando Paulo escreve: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fp 4.7), o verbo guardar aí é, no grego, phroureo, que, segundo a Concordância Strong, significa proteger através de uma guarda militar. De fato, carecemos diuturnamente dessa proteção divina, pois “A peleja é tremenda, torna-se renhida”, como diz o hino 212 da Harpa Cristã.
Primeiro, temos a nossa própria velha natureza, que a Bíblia frequentemente chama de “carne”, e que Pearlman bem definiu como “a soma total dos instintos do homem, que não vieram das mãos do Criador, e sim como são na realidade, pervertidos e feitos anormais pelo pecado” [4]. Esta velha natureza, ou nosso “velho homem”, não quer render-se à Cristo, nem perder seu posto de comando. Por isso, somos chamados a nos despojar “do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano” (Ef 4.22).
Segundo, temos o mundo em nossa volta, que “jaz no maligno” (1Jo 5.19), tentando retomar as pautas de nosso pensamento e comportamento, para nos ditar as regras de conduta social, conforme seus preceitos libertinos, idólatras e pervertidos. Babilônia quis, mediante um curso de três anos em suas melhores universidades, fazer uma lavagem cerebral e reprogramar a forma do jovem exilado Daniel pensar, e com isso enfraquecer a sua fé no Deus de Israel, além de fazê-lo comer os “manjares do rei” Nabucodonor. Daniel, porém, “propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia” (Dn 1.8). Hoje, o marxismo cultural campeia os grandes centros de ensino superior em nosso país e, por outro lado, a teologia liberal, que é incrédula quanto aos relatos bíblicos e opositora da ortodoxia cristã, também campeia os seminários teológicos Brasil afora. Os que forem de “duplo ânimo” (Tg 4.8) logo cairão nos engôdos dos falsos mestres (2Tm 4.3; 2Pe 2.1) e se deixarão levar pelo conselho dos ímpios (Sl 1.1). Todavia, os que tiverem a mente de Cristo, “de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”! (Jo 10.5)
Por último, temos o Criador que busca por meio da persuasão branda e suave tomar o controle de nossa mente, fazendo-a pensar e desejar apenas o que é verdadeiro, honesto, justo, puro (sem imoralidades), amável, de boa reputação; coisas em que existam virtude (gr. arete, isto é, excelência moral) e louvor (gr. epainos, ou seja, coisa digna de admiração e aprovação) (Fp 4.8). O imperativo bíblico no final desse versículo é: “nisso pensai”, ou ainda “E vos renoveis no espírito da vossa mente” (Ef 4.23).
2. A mente renovada tem pensamentos novos
Se de fato temos a mente de Cristo (1Co 2.16), então nossa mente foi renovada (Rm 12.2) e deve então almejar “as coisas que são de cima, e não nas que são da terra” (Cl 3.2). As coisas que “são de cima” são aquelas de acordo com a ética absoluta de Deus; as coisas que “são da terra” são aquelas de acordo com os valores permissivos e transitórios do mundo separado de Deus.
Por último, trazemos um quadro onde vemos na carta de Filipenses, especialmente no último capítulo, a sugestão de alguns sentimentos reprováveis que querem dominar a nossa mente, e a resposta bíblica que precisamos ouvir para sermos vitoriosos nessa batalha.
QUEM DOMINA A SUA MENTE? | |
A ansiedade?
Preocupações e inquietações com as necessidades da vida secular, muitas vezes até retirando o sono?
| Então, “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças” (Fp 4.6). Deixe a confiança no Senhor dominar sua mente! (Fp 4.19; Mt 6.25-34) |
O ressentimento?
Um rancor guardado na consciência devido alguma discussão ou desentendimento com um irmão ou irmã na fé, muitas vezes até impedindo-o de orar?
| Então, “Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o mesmo no Senhor” (Fp 4.2). Deixe a paz de Cristo dominar sua mente (Fp 4.7; Cl 3.15). |
O orgulho?
Sentimento de superioridade ou mania de grandeza tomando a mente, muitas vezes gerando menosprezo a outras pessoas de posição social ou eclesiástica inferior?
| Então, “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros” (Fp 2.3-5). Tome o exemplo da humildade de Cristo! (Fp 2.5-7) Vistamos todos o avental da humildade e estejamos prontos para servir os nossos irmãos (1Pe 5.5b) |
A tristeza?
Sentimento de mágoa com Deus, com as pessoas ou consigo mesmo devido situações adversas da vida, muitas vezes até suscitando pensamentos de desistência da vida?
| Então, “Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: alegrem-se!” (Fp 4.4). Deixe o júbilo do Senhor dominar sua mente! (1Ts 5.16; Gl 5.22). A verdadeira alegria não está nas coisas que temos ou que fazemos, mas no Senhor a quem adoramos. Por isso, Jesus chamou a alegria de “minha alegria” (Jo 15.11). Alegrai-vos no Senhor! |
A impureza?
Pensamentos maus e desejos imorais transformando a mente num motel ambular ou num esconderijo de maldades, muitas vezes levando-o a prática de pecados repugnantes?
| Então, “tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas” (Fp 4.8). Peça a Deus a mente de Cristo! (1Co 2.16; Rm 12.1,2) |
Conclusão
O primeiro Salmo diz que é bem-aventurado aquele que não se detém no caminho dos pecadores (Sl 1.1). Não permitamos que nossa mente seja dominada por pensamentos maus, de quaisquer ordens que sejam (ira, inveja, ingratidão, murmuração, sensualidade, etc.). É certo que tentações vêm, mas mantenhamos as janelas da mente fechadas para toda visita inoportuna! Como dizia Martinho Lutero, posso não impedir que aves sobrevoem sobre a minha cabeça, mas tenho o dever de não deixar se aninharem sobre ela. No mais, evitemos gastar tempo demasiado com a TV, a internet e os entretenimentos desta vida secular, que, infelizmente, estão saturados de seduções para o pecado. Quanto mais tempo gastamos ligados nas coisas desta vida, menos tempo passamos com Deus em oração, no louvor e na Palavra e, consequentemente, mais suscetíveis ficamos aos pecados da mente. Se queremos algo virtuoso com que ocupar nossa mente e fazê-la se deleitar, aqui vai a receita:
Nas horas que passo pensando em Jesus
As trevas desfaço, buscando a luz;
Que horas de vida, tão doces p’ra mim,
Jesus me convida, que eu suba p’ra Si!
As trevas desfaço, buscando a luz;
Que horas de vida, tão doces p’ra mim,
Jesus me convida, que eu suba p’ra Si!
(Harpa Cristã, hino 17)
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Referências
Referências
[1] Dicionário Vine, 7° ed., CPAD, p. 784
[2] Hank Hanegraaff. O livro das respostas bíblicas, CPAD, pp. 97,8
[3] Myer Pearlman. Conhecendo as doutrinas da Bíblia, 3° ed., Vida, p. 117
[4] Pearlman. Op. cit., p. 116
[2] Hank Hanegraaff. O livro das respostas bíblicas, CPAD, pp. 97,8
[3] Myer Pearlman. Conhecendo as doutrinas da Bíblia, 3° ed., Vida, p. 117
[4] Pearlman. Op. cit., p. 116
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