terça-feira, 17 de outubro de 2017

Igreja perseguida, martírio desprezado por cristãos triunfalistas

Orações farão “maná cair do céu” para alimentar cristãos famintos no Iêmen?


Igreja perseguida, martírio desprezado por cristãos triunfalistas
As leituras constantes de relatórios de ativistas e instituições de direitos humanos denunciando a cada vez mais brutal perseguição aos cristãos em países muçulmanos me impede de usar espécie de “clichê gospel” justificando massacres que são vistos por grande parte da Cristandade como uma “normalidade” vaticinada pelas Sagradas Escrituras.
Alguns “cristãos tupiniquins” alegam que não há nada de errado no fato de seus irmãos estarem sofrendo matanças sistemáticas e perseguição, uma vez que, tais eventos foram sobejamente “profetizados”. Além disso, o martírio é concebido como uma espécie de “prêmio” que deve ser enaltecido e jamais lamentado, e para muitos, não há necessidade de se discutir possibilidades de atenuar o sofrimento da chamada “igreja perseguida”.


Sob essa “percepção triunfalista”, a princípio, orações seriam “suficientes” pois fortaleceriam a igreja perseguida na nobre missão de sofrer em razão da fé. E nesse caso, vale lembrar que a “geração gospel” não entende ou não quer entender que seus irmãos não morrem apenas em virtude de conflitos armados e perseguição, mas muitos deles estão carecendo com urgência de assistência humanitária para sobrevivência em ambientes altamente inóspitos.
Assim, sempre vale a pergunta: orações farão “maná cair do céu” para alimentar cristãos famintos no Iêmen? Por sinal, será que a “igreja intercessora” sabe que, apesar de não ser noticiado com destaque pela grande mídia ocidental, a crise humanitária mais grave atualmente está localizada nesse país muçulmano xiita[1]?
São mais de 10 milhões de pessoas necessitando de assistência humanitária imediata no Iêmen, país árabe mais pobre da região. E, se observarmos bem os “princípios” que embasam o cristianismo, deveria haver um esforço no sentido de socorrer não apenas os cristãos, mas, também, uma população carente que está literalmente “morrendo de fome” longe das manchetes internacionais voltadas tão somente para o enfoque de promover a imigração em massa de muçulmanos sunitas – desprezados pelos “senhores da guerra” no mundo muçulmano – para o quase sempre “benevolente” Ocidente multiculturalista.


Por acaso, o leitor tem avistado alguma propaganda de envio de “refugiados xiitas” para o Ocidente? A “lógica humanitária” induziria a ideia de que seria necessário acolher essas vidas, porém, no contexto sectário que envolve as “ações humanitárias” no mundo islâmico, os muçulmanos xiitas são solenemente ignorados, inclusive, pelas potências ocidentais, mais preocupadas em ceder às “chantagens islamizantes” da Arábia Saudita sunita.
Dessa forma, voltando à reflexão proposta acima, cabe indagar: será que “a morte de cristãos devido a fome” seria também “justificável” à luz da Bíblia para a Cristandade brasileira ou apenas a morte pela “espada da jihad”? Vale ressaltar que cristãos carecem de assistência em diversos países, inclusive, não-muçulmanos.
Por outro lado, no contexto de denúncia contra a covarde perseguição dirigida a cristãos, cumpre destacar o trabalho meritoso da instituição católica Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), que em 12 de outubro lançou relatório frisando que os cristãos vivem a pior perseguição de toda sua história[2]. Sob o título “Perseguidos e esquecidos?”, o relatório aduz problemas crescentes em vários países muçulmanos e Estados autoritários como Eritreia e Coreia do Norte. Cabe citar exposição esclarecedora do editor John Pontifex:
“Em termos de número de pessoas envolvidas, a gravidade dos crimes cometidos e seus impactos, é claro que a perseguição dos cristãos é pior do que em qualquer momento da história. Não só os cristãos são mais perseguidos do que qualquer outro grupo de fé, mas em números cada vez maiores estão enfrentando as piores formas de perseguição”.
O mais grave, porém, é haver o reconhecimento de genocídio por alguns governos ocidentais e organizações internacionais, mas não se implementar medidas eficazes de socorro humanitário a esses cristãos, que são abandonados pela ONU, que insiste em não reconhecer o massacre sistemático da minoria religiosa mais perseguida do planeta. De maneira que, é extremamente vergonhoso um país de maioria cristã como o Brasil não se posicionar no sentido de denunciar e condenar o genocídio e a perseguição sistemática contra cristãos e demais minorias religiosas no mundo muçulmano. Em março de 2016, estive em reunião com a equipe do Ministério das Relações Exteriores (MRE), e na oportunidade, requeri pronunciamento do Brasil na Assembleia Geral da ONU a fim de DENUNCIAR e CONDENAR a “Cristofobia”, pelo que o chefe da Divisão de Direitos Humanos do MRE informou que encaminharia o requerimento ao Itamaraty[3]. Todavia, até o momento, o Brasil limitou-se a pronunciar-se duas vezes em Assembleia Geral destacando preocupação com a questão dos “refugiados”, mas, ignorou in totum as desgraças que vivem cristãos em dezenas de países onde a perseguição a minorias cristãs é fartamente comprovada.
Fato é, que o Brasil vive uma verdadeira “batalha ideológica” na defesa de “valores éticos e morais” ameaçados por movimentos esquerdistas profundamente enraizados em grande parte da burocracia estatal e atividades midiáticas. Geralmente, os “debates” salientam questões de “censura”, “ideologia de gênero”, “aborto”, “liberação de drogas” e outros temas semelhantes. A preocupação com o massacre sistemático de “cristãos em terras  distantes” ainda não sensibilizou grandes lideranças, que não tomaram como “interesse de pauta” a visibilidade da “dor de seus irmãos” para pressionar a ONU e foros internacionais a agirem… Aliás, nem mesmo a emergência da “ameaça do extremismo islâmico” impactou a igreja brasileira, que acredita cegamente no vozerio apregoador – típico do senso comum –  de que o país não viverá os problemas ocasionados em países que receberam imigrantes em massa.
Parte da igreja cristã alega uso do “princípio do amor ao próximo” para não se articular objetivando impedimento de imigração em massa facilitado pela nova Lei de Migração num país que não tem estrutura sequer de cuidar dignamente dos seus nacionais, mas, esse princípio é desprezado quando o tema é “socorro” para a igreja perseguida. A “igreja triunfalista”, de modo geral, autoriza abertura irrestrita de fronteiras para atender uma “agenda seletiva da ONU”, que se aliou a países árabes que não recebem seus irmãos refugiados, porém, fecha as “fronteiras da compaixão” a fim de não estender às mãos aos seus “mártires distantes”, que não contam com lobby convincente” dos petrodólares usados apenas em função de islamizar o Ocidente.
Concluo lembrando aos omissos cristãos que  a “espada que corta pescoços, lá”, em algum momento “cortará pescoços, cá”… Nesse tempo, faço votos que as “orações” bastem para enfrentar o martírio sem assistência humanitária de outros países, isto, se em nosso Brasil a fé conseguir sobreviver sem obras!
[1] https://www.nytimes.com/interactive/2017/08/23/world/middleeast/yemen-cholera-humanitarian-crisis.html
[2] https://acninternational.org/christian-persecution-rises-historic-levels/
[3] https://ecoandoavozdosmartires.wordpress.com/2016/03/30/evm-convence-ministerio-das-relacoes-exteriores-a-propor-ao-itamaraty-a-inclusao-de-condenacao-da-cristofobia-em-discurso-na-assembleia-geral-da-onu/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário, é importante para nós! Obrigado!