Quando Deus desaparece
A "teologia do eu" vem tomando conta de nossas igrejas
Hoje, em nosso meio, contrastando com a teologia de João, a “teologia do eu” vem tomando conta de nossas igrejas, nas quais homens inescrupulosos são literalmente entronizados, tendo os seus nomes venerados por audiências incautas e idólatras.
Pelo título deste artigo, talvez você ache um paradoxo pensarmos que Deus possa desaparecer, já que Ele é um ser espiritual e invisível (Cl 1.15). De fato, ninguém jamais teve uma visão perfeita de Deus (1 Jo 4.20). Porém, ao nos referir a “desaparecer”, queremos evidenciar a perspectiva teológica entendida por João Batista: “Convém que ele [Jesus] cresça e que eu diminua” (Jo 3.30, grifo nosso).
No auge de seu ministério, João Batista viu Jesus despontando com muita força na Palestina. O filho de Isabel e Zacarias foi o precursor do Mestre na pregação do arrependimento de pecados e no batismo em águas dos que se voltavam para Deus. Mas, num certo dia, foi avisado pelo próprio Deus que iria aparecer um homem que atrairia a atenção do povo para si: “Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele. Pois eu, de fato, vi e tenho testificado que ele é o Filho de Deus” (Jo 1.32, 34). Após receber a notícia de que deixaria de ser o centro das atenções, pois certamente a sua audiência iria diminuir, João agiu naturalmente: “É necessário que ele [Jesus] cresça e que eu diminua” (Jo 3.30, grifo nosso). João tinha uma teologia saudável. Ele entendia que precisava “desaparecer” diante dos homens para que Jesus pudesse ser notado com mais veemência entre o povo.
Todavia, com uma teologia inflamada pelo ego, os discípulos de João foram até ele tentar dissuadi-lo do propósito de “desaparecer” de entre os homens, dizendo que Jesus estava batizando, e que “todos lhe saíam ao encontro” (Jo 3.26). Ao que respondeu aos seus pupilos: “O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada” (Jo 3.27). Com esta resposta, o precursor do Mestre queria ensinar duas coisas aos seus discípulos: 1) todo ministério tem começo, meio e fim e 2) que eles precisavam estar sensíveis para perceberem Deus agindo no ministério de Jesus.
A perspectiva teológica de João não fundamentava o seu sucesso na busca da fama de seu ministério, mas na preeminência de Jesus em tudo. Para João, Jesus “crescendo” é o que importava, pois foi para isso que ele veio ao mundo, porque a sua missão era ser apenas uma “voz”, a voz do que clamava no deserto (Jo 1.23).
Contudo, hoje, em nosso meio, contrastando com a teologia de João, a “teologia do eu” vem tomando conta de nossas igrejas, nas quais homens inescrupulosos são literalmente entronizados, tendo os seus nomes venerados por audiências incautas e idólatras. Essa compreensão humanista e diabólica, alicerçada na busca do “aparecer” e do “crescer” humanos, tem legitimado o “desaparecimento” paulatino de Deus desses cultos e da vida diária dessas igrejas, corroborando, assim, está inegável verdade: “Quando o homem aparece, Deus ‘desaparece’”.
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